Trabalhando na interseção entre arte, pensamento decolonial e ecologia, e adotando ativamente formas de conhecimento locais, a exposição destaca as ideias e metodologias de Zita e procura reter, em vez de apagar ou obscurecer, a história única da casa, transcrita nas suas paredes e fundações através da erosão e do graffiti. Inclui uma amostra das suas notas de campo, com transcrições e uma seleção de fotografias.
Desde 2006, Victor Gama tem vindo a reconstruir o arquivo perdido de Zita, estudando e interpretando as suas notas de campo e trabalhando no terreno com fotografia, vídeo, gravações de áudio e recolhendo objetos significativos. Café Mito da Utopia é uma colaboração com Stacy Hardy e Kiluanje Liberdade, com contribuições de Paula Nascimento e Carlos Major, a antropóloga Teresa Aço, o jornalista Francisco Keth e parceiros locais no Tombwa, funcionando como um laboratório de pesquisa para expandir e aprofundar o arquivo tectonik•Tombwa, aplicando as metodologias de Zita e usando-as para abordar a exploração estrutural e a desigualdade global na contemporaneidade, bem como para repensar o nosso lugar na biosfera e de que forma nos podemos reconectar ao planeta.
As Casas de Cantoneiros
Para Zita, as casas eram a principal referência do seu trabalho, pois representavam o universo simbólico e mítico pertencente ao imaginário europeu e português em particular: uma casa no deserto africano, uma estrada que vai até ao fim do mundo, postes elétricos e as suas linhas, uma igreja junto à falésia, um teatro modernista e destroços abandonados.
As comunidades locais, empurradas para o limite da sobrevivência pela destruição ecológica, principalmente devido à pesca excessiva pelas grandes empresas internacionais de pesca industrial, reciclam antigos postes de distribuição elétrica, que se estendem em linha pelo deserto desde o Namibe até ao Tombwa. Embora esta não seja explicitamente uma estratégia ecológica para estas pessoas, ela reflete os efeitos da globalização e da industrialização tardia sobre as comunidades, assim como a sua resiliente inventividade. O reconhecimento de que podemos reciclar e reutilizar o que temos aponta para um caminho a seguir. Todos os mais de 400 postes já caíram completamente devido a esta atividade recolatora no deserto. Os seus restos de betão desfeitos em pequenos pedaços jazem como túmulos no deserto, testemunhando tanto uma história como um possível futuro.
Zita interpretou as várias intervenções humanas na área feitas por maquinaria pesada, como uma línguagem estrangeira escrita pelo sonho colonial “utópico” de subjugar a natureza. Pretendeu usar imagens de satélite, juntamente com formas locais de cartografia que adotam o caminhar como método, para traduzir essa escrita usando também a história profunda gravada na areia, nas rochas, na terra, que atendem às memórias antigas e futuras, traçando os caminhos dos animais, matéria, plantas e pessoas através dos ancestrais sistemas de migração e transumância na região e nas ressonantes paisagens.
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