Poemas pintados nas paredes por Calunamba (CalunambaArte), apresentando a nova geração de poetas angolanos que escrevem sobre o presente - o seu próprio e o do seu país, profundamente atentos ao mundo à medida que o vão descobrindo, incluindo jovens poetas do Tombwa, Sabino Mbuta Calvia (Pensador Mbuta) e António Sebastião York Caunda (Poeta Lágrimas De Arrependimento), cuja obra revela um profundo lirismo sonoro.
A adivinhação é uma das práticas africanas que tanto a colonização como o imperialismo capitalista extrativista têm procurado incessantemente minar e erradicar violentamente. É uma tradição que tem em primeiro plano uma atitude recetiva e reativa em vez de exploradora da natureza e, portanto, que desenvolve a sua capacidade inicial intuitiva de ler e interpretar sinais no seu meio ambiente; de sentir se a floresta, o mar, o deserto, as montanhas ou os vales estão em equilíbrio, se as árvores estão a florescer e os animais prosperam.
A Cesta de Adivinhação
Koenraad Stroeken, antropólogo convidado, em consulta (por telefone) com o seu mentor Malamala do culto Chwezi dos médiuns espirituais da Tanzânia, criou uma 'amostra' de um oráculo de adivinhação numa das salas mais pequenas da casa que Augusto Zita associou a um nkizi, um objecto religioso cuja função é a mediação com o mundo dos antepassados, propondo o desafio da transição ecológica através da cosmogonia africana.
Na sua investigação, Zita reconhece as plantas como observadores atentos que ao longo da história testemunharam o extrativismo, a desconexão e destruição ambiental humanas. Trabalhando a partir das suas notas de campo, esperamos desenvolver novas estratégias de interpretação e compreensão do mundo natural e da flora indígena alterando a perspectiva de uso da natureza como recurso estritamente consumista, vazio de significado e mesmo de sacralidade para outra onde esta faça parte integrante da vida de todos e da sustentabilidade do planeta. As notas de Zita contêm desenhos do n'tumbo, uma planta arbórea que pode viver mais de 1000 anos e cuja resiliência nos permite interpretar a atual crise climática como uma oportunidade para uma mudança estrutural
fundamental.
Denominada "welwitschia mirabilis" pelo explorador botânico austríaco Friedrich Welwitsch, que afirmou tê-la descoberto, esta antiga árvore desenvolveu um ciclo de vida lento adaptado ao mais duro e árido deserto do Namibe. Com uma categorização híbrida entre planta e árvore, usa o vento para dividir as suas folhas numa miríade de tentáculos que crescem continuamente ao longo do solo acima de um tronco lenhoso subterrâneo com um sistema de raiz axial que se estende até às profundezas da terra. As notas de Zita convidam-nos a perguntar: como podemos aproveitar o conhecimento antigo desta planta para sobreviver e prosperar no meio de uma destruição da biodiversidade e crise climática generalizada?
Zita interpretou as várias intervenções humanas na área feitas por maquinaria pesada, como uma línguagem estrangeira escrita pelo sonho colonial “utópico” de subjugar a natureza. Pretendeu usar imagens de satélite, juntamente com formas locais de cartografia que adotam o caminhar como método, para traduzir essa escrita usando também a história profunda gravada na areia, nas rochas, na terra, que atendem às memórias antigas e futuras, traçando os caminhos dos animais, matéria, plantas e pessoas através dos ancestrais sistemas de migração e transumância na região e nas ressonantes paisagens.
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